terça-feira, 7 de outubro de 2008

O PROBLEMA DA ORIGEM DAS IDÉIAS

DÊ UM TEMPINHO PARA VOCÊ MESMO E APROVEITE ESTA LEITURA... COMO O HUMANO É GENIAL
O problema da origem das idéias já inquietava filósofos clássicos como Sócrates e Platão – sendo que a questão fundamental era definir se as idéias que nos povoam a mente provém de nós mesmos ou de alguma misteriosa fonte exterior (Deus? O Universo? Um banco universal de idéias fora do tempo e do qual só podemos fazer saques parciais?), fonte essa sobre cuja natureza podemos apenas especular. Ao longo dos séculos incontáveis filósofos (homens de idéias!) apontaram para diferentes extremos na tentativa de responder à essa pergunta, mas foi preciso Freud para formular e propor uma solução que se pode chamar de intermediária: segundo o pai da psicanálise, nossas idéias são as ejaculações de um vastíssimo e submerso monstro interior, o inconsciente, a respeito do qual podemos apenas especular.
Segundo Freud as idéias provêm de uma porção desconhecida de nós mesmos.
De acordo com essa elegante solução, nossas idéias e sentimentos e desejos provém de fato de nós mesmos, mas tratam-se de sinais mistos, repletos de pistas falsas, emitidos por uma porção de nós mesmos que nos é em grande parte desconhecida e que não estamos de forma alguma acostumados a associar ao conceito de nós mesmos.
Carl Jung, discípulo de Freud, apartou-se do mestre quando sugeriu que as idéias não provém apenas do inconsciente de cada um, mas de um invisível repositório que abarca secretamente toda a experiência da humanidade antes de nós. Esse imponderável armazém de experiências acumuladas, que Jung chamou de inconsciente coletivo, é povoado por formas e padrões de comportamento universais, os arquétipos, dos quais acabamos extraindo nossos valores, nossa postura e nossas idéias.
Símbolos do inconsciente coletivo e dos arquétipos que o compõem se manifestam nos diferentes “papéis” assumidos pelos personagens de mitos e contos de fadas. Dentre eles estão:
o Herói – Batman, Luke Skywalker, Neo
o Velho Sábio – Obi-Wan Kenobi, Gandalf, Aldus Dumbledore
o Trapaceiro – Bart Simpson, Saci, Pernalonga
a Eterna Criança – Peter Pan
a Grande Mãe (que pode ser tanto boa quanto terrível) – Galadriel, Dona Benta
o Superhomem (que se coloca acima do bem e do mal) – Coringa, Fausto, Don Giovanni
* * *
Anatomicamente falando, demorou algum tempo para que as idéias, a mente e a consciência fossem definitivamente associadas ao cérebro, e portanto à matéria. Na Antiguidade a norma era crer-se em alguma espécie de dualismo, tese que opõe mente e corpo e alega que os fenômenos da mente são, pelo menos em alguns sentidos, desencarnados e não-físicos – mais ligados ao que se costuma[va] chamar de “alma” do que ao corpo.
O dualismo sustenta que alguns aspectos da mente são independentes do corpo e da matéria.
Platão, por exemplo, cria num Mundo de Idéias à parte do que costumamos chamar de realidade, um armazém de conceitos universais que tornam inteligíveis os fenômenos do mundo dos sentidos. A fim de poder apoderar-se de qualquer conhecimento a respeito de qualquer aspecto do universo, o intelecto teria portanto de ser necessariamente uma entidade imaterial e não-física – de outra forma não teria como acessar o imponderável banco de dados do Mundo das Formas.
Platão usou esse argumento em favor da sua tese de que a alma é imortal – já que o intelecto, que precisa ser imaterial para ter como acessar o imaterial Mundo das Idéias, não pode se desfazer com a mera falência do corpo material.
Embora alguma forma de dualismo tenha sido defendida até recentemente por gente como Descartes e seus discípulos, o consenso popular e científico dos nossos dias parece favorecer a tese oposta, a do materialismo, que não vê nenhuma distinção possível entre as elocubrações da mente (incluindo os sentimentos, as idéias, o intelecto e a consciência) e a atividade do cérebro.
Se é que pensamos nisso, costumamos crer que mentes desencarnadas são uma impossibilidade científica – e que, portanto, nossas idéias não tem como ser injetadas em nós por uma mente imaterial, exterior e independente da realidade física. Êxtases espirituais à parte, sustentamos na prática a sóbria e materialista noção de que todas as nossas idéias originam-se no confinamento do nosso cérebro a partir da alimentação dos sentidos.
* * *
Mas, e é aqui que quero chegar, a verdade está lá fora e há evidências de que talvez não seja tão simples assim.
Veja por exemplo esse estudante da Universidade de Sheffield que um médico do campus examinou e encaminhou ao neurologista John Lorber, porque julgava que o rapaz tinha a cabeça um pouco maior do que o normal.
O universitário em questão tinha um ficha acadêmica imaculada e um QI de 126, porém quando submeteu-o a uma tomografia o Dr. Lorber descobriu que o rapaz, para todos os efeitos, não tinha cérebro.
Sua cabeça não era literalmente oca, mas consistia basicamente de fluido: o rapaz tinha, sem saber, hidrocefalia. O córtex do cérebro, que tem comumente paredes de 4,5 cm de espessura, havia no estudante sido reduzido pela tremenda pressão do líquido interno a uma espessura de menos de um milímetro.
O estudante, sem nenhum “cérebro detectável”, tinha uma vida social normal e se graduara com honra ao mérito na disciplina de matemática.
Normalmente a hidrocefalia mata nos primeiros anos da infância; quando acontece de sobreviver a pessoa é forçada a suportar severas limitações mentais. O enigma está em que o estudante em questão, sem nenhum “cérebro detectável”, tinha uma vida social normal e se graduara com honra ao mérito na disciplina de matemática. E ele não foi o único: o falecido professor Lorber catalogou centenas de pessoas com hemisférios cerebrais ínfimos e que eram aparentemente indivíduos de inteligência normal.
De onde vêm as idéias de alguém que tem um cérebro com menos de um milímetro de espessura? Alguns cientistas defendem que a peculiaridade dessa condição médica demonstra de forma eloqüente a tremenda plasticidade cérebro. Pessoas normais com cérebros minúsculos seriam a prova de que o cérebro é desconcertantemente flexível e redundante: o pouco que sobra basta para que essas pessoas funcionem sem maiores problemas. Esses casos seriam uma bizarra evidência em favor da teoria de que usamos apenas 10% da capacidade do cérebro.
Ou então, se tem a mente aberta (por assim dizer), você pode querer finalmente ouvir a controversa resposta do biólogo Rupert Sheldrake à questão “de onde vêm as idéias”. Em seu livro A New Science of Life, Sheldrake procura derrubar a estabelecida noção de que o cérebro seja um computador ou um armazém de memórias, e sugere que ele é mais como um receptor de rádio sintonizado com o passado. A memória não seria, portanto, um processo de armazenamento físico de informações, mas uma jornada que a mente empreende passado adentro através do processo de ressonância mórfica.
O cérebro seria menos um computador do que um rádio.
Segundo Sheldrake, não somos biologicamente construídos para elaborar as nossas próprias idéias (o cérebro não seria suficientemente complexo para tanto, especialmente aqueles com menos de um centímetro de espessura), mas para sintonizar as informações que nos são transmitidas de outra fonte – sobre cuja natureza podemos apenas especular.
Câmbio e desligo.
http://www.baciadasalmas.com/2006/cerebros-fluidos-e-a-origem-das-ideias/

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